OS 9 OBSTÁCULOS NO CAMINHO DO YOGA
OS NOVE OBSTÁCULOS NO CAMINHO DO YOGA
O nosso estado natural da mente é o samadhi - quando há uma compreensão da existência e da nossa comunhão com o universo. No entanto, existem vários obstáculos que não nos permitem acessar essa percepção de forma fácil e espontânea.
Reconhecer que existem obstáculos já é uma forma de preparar a mente para um estado de grande clareza. A questão é que, muitas vezes, mal sabemos quais são estes obstáculos que nos tiram do nosso caminho, ou se os percebemos, não entendemos que eles fazem parte do caminho.
O grande mestre Patanjali - que escreveu um dos livros mais importantes da história do Yoga - Os Yoga Sutras, diz que estes obstáculos (Antarayas), são como pedras no caminho percorrido por alguém que inicia a jornada do yoga.
Segundo ele, existem 9 obstáculos que se manifestam em sintomas como autopiedade, pessimismo, problemas físicos, e dificuldades respiratórias.
Se você é praticante de yoga provavelmente já sentiu um desses sintomas.
Vamos falar de cada um dos obstáculos, na tentativa de trazer maior clareza para você que é praticante de yoga e que está propenso a passar por estas situações. Lembrando que o professor de Yoga é um grande aliado seu nestes momentos e que é importantíssimo que você se apoie nele e na sua comunidade (colegas/sangha) de Yoga.
1) Vyadhi - A doença.
Obviamente é um obstáculo para a prática de yoga se o praticante se sente mal ou se está doente. Vyadhi perturba tanto a mente que é preciso fazer algo para melhorar a saúde antes que se possa continuar. entretanto, se afastar da prática não é o melhor remédio, sendo que o fluxo energético que ela propõe ajuda no processo de cura. Yoga é terapia, portanto em momentos de doença é necessário ajustar a prática, adaptar prosturas e movimentos. Yoga cura, doenças, lesões, problemas digestivos, hormonais. Portanto, se você sente-se doente, procure o seu professor e peça a ele que adapte sua prática para ajudar no seu processo de cura.
2. Styana- Desinteresse/Tédio:
Outro obstáculo que afeta diretamente o nosso estado mental é a submissão aos nossos humores. Às vezes, o praticante de Yoga se sente bem e sabe que pode lidar com qualquer coisa. Já em outras vezes, ele se sente letárgico e sem energia para fazer o que quer que seja. Esse peso e letargia chamado de Styana, geralmente sé causado por comer demais o tipo errado de comida, pelo clima frio ou pela própria natureza da mente. Outras ações também podem desencadear este estado, como dormir pouco, consumir estimulantes e trabalhar demais. Por isso, se faz necessário ter disciplina e fazer boas escolhas, alinhadas com o seu propósito.
3. Samshaya- Dúvida/Indecisão:
Para algumas pessoas, a dúvida é o maior obstáculo para progredir no Yoga, sendo que a mente pode ser assolada por três tipos de dúvidas:
- Dúvida sobre si mesmo : Dúvida ou falta de confiança em sua própria capacidade, poder e potencial;
- Dúvida sobre as ferramentas ou métodos: Muitas vezes começamos a duvidar do caminho que escolhemos;
- Dúvida sobre o professor: Outras vezes, duvidamos se estamos sendo guiados pela pessoa certa. Geralmente isso ocorre quando o professor aponta para alguma sombra que não queremos ver.
Assim, a mente oscila entre a confiança e a desconfiança no que foi ensinado, na eficácia da prática e se vale a pena mesmo seguir adiante. Ter dúvidas e questionar as coisas não é errado, mas quando isso se torna uma constante, algo está errado. Muitas pessoas não conseguem aprofundar ou desenvolver nenhuma atividade. Quando passa a euforia do novo, no momento em que o processo exige foco e determinação, ou ainda, na primeira dificuldade elas abandonam o barco.
4. Pramada - Distração/Descuido:
Quando o praticante tem pressa e se perde na falta de atenção que o presente momento exige, ele pode tropeçar ao invés de seguir adiante. Pramada ou a pressa não está alinhada com o desenvolvimento do praticante no caminho do Yoga, pois ele depende de persistência, paciência e resiliência. Não existe tempo para se chegar em determinado lugar, tudo irá acontecer de maneira natural e não forçada. Cada pessoa tem seu tempo, portanto comparar o seu progresso com o do colega é se maltratar. A distração é algo comum em nossa sociedade, assim como a negligência sobre si mesmo. Por esse motivo, quando somos convidados a manter o foco, aquietar a mente e manter a disciplina uma sensação de aprisionamento ilusória pode acontecer.. A maioria das pessoas prefere manter a mente ocupada, pulando de galho em galho, sem aprofundar em nada do que ter paciência e foco para esperar o seu plantio florecer.
5. Alasya - Preguiça:
Outro obstáculo é o tipo de exaustão que chamamos de Alasya. Geralmente, ela se manifesta em pensamentos como "talvez eu não seja a pessoa certa para isso” ou “hoje me sinto muito cansado para fazer qualquer coisa". Quando isso acontece, precisamos fazer alguma coisa para recuperar a motivação e o entusiasmo. Em muitos momentos o praticante irá ter que lidar com essa tendência que a mente possui de evitar o esforço por algum tempo. Se formos praticar apenas quando estamos animados, não haverão muitas práticas em um ano. Nos momentos em que o praticante se rende a preguiça, ele deixa de atingir o seu maior potencial que é exercitar o controle da própria mente. Você já sabe o que tem que fazer, já fez a sua escolha. Se sua mente se movimentar no sentido oposto, não permita que o pensamento se fortaleça, estenda o seu tapete e pratique. Com o tempo a mente vai silenciando e perdendo a capacidade de barganhar.
6. Avirati - Desejo:
O próximo obstáculo pode aflorar quando os sentidos assumem o controle e algumas vezes isso ocorre sem que sequer notemos. Avirati ou o desejo é um obstáculo que surge na forma de impulso quase incontrolável, quando um objeto sensorial externo seduz a mente e nos leva para longe dos objetivos. Quando há um excesso de indulgência, perder o controle é algo fácil. Para estes momentos é importante trazer a consciência de que todos os desejos desaparecem e que esforços no presente sempre trarão prazeres mais duradouros.
Não vale a pena ceder a desejos voláteis em prol de prazeres pueris.
7. Bhrantidarshana - Delírio/Ilusão:
O maior e o mais perigoso obstáculo acontece quando o praticante acha que já sabe o suficiente ou que já sabe de tudo. Ou ainda, quando começa a inventar histórias que são reflexos do seu barulho interno. Geralmente esse estado ilusório acontece quando alcançamos períodos de paz e tranquilidade, ou ainda uma compreensão maior sobre determinados assuntos. De maneira oposta, pode ocorrer quando estamos apegados a narrativas extremamente passionais, fruto de uma vida toda pautada sobre elas. A sensação de estar no topo, de se iluminar é bastante comum e muito equivocada, alimenta o ego e foge do objetivo. O praticante torna-se arrogante e cria histórias que têm muito pouca semelhança com a realidade. Humildade é uma pratica importante no caminho do Yoga, exercitando a compreensão de que há sempre o que ser aprendido. Se sua mente adora historinhas que trazem distrações, foque naquilo que faz sentido e te traz paz. Ocupe a mente com poucos assuntos, alimente pensamentos alinhados com o caminho que você escolheu.
8. Alabdhabhumikatva - Não acreditar no progresso:
Podemos tropeçar em outro obstáculo justamente quando, ao pensarmos ter feito algum progresso, logo percebemos o quanto ainda nos falta. Neste ponto, pode ser que você fique bastante desapontado e com o humor instável. Subitamente perdemos o interesse de tentar de novo, em encontrar outro modo de começar, em dar o próximo passo. Isso pode acontecer quando pré-requisitos da prática foram negligenciados ou porque, apesar de se pensar o contrário, há a necessidade de se investir mais esforço. Talvez um platô tenha sido alcançado, mas isso é apenas uma questão de perspectiva. O professor terá aqui um papel de fundamental importância para avaliar o progresso que tem sido realizado.
9. Anavasthitatva - Instabilidade na prática:
Para que um praticante não tropece no obstáculo da instabilidade, é necessário que assuma uma postura de abertura para todas as possibilidades. O apego e a aversão ao que está sendo vivenciado também são perigosos, para contrapolos é importante desapegar do resultado dos esforços. Só se alcança o seu maior potencial entendendo que uma das regras da natureza é a impermanência. Assim, nem todos os dias serão iguais e haverão períodos bons e outros ruins. Independente do momento em que se está, sempre haverão grandes aprendizados e esse é o maior presente que o Yoga nos dá. Quando há constância, consistência e foco, o praticante sabe que a pratica é um reflexo do que acontece fora do tapete. Portanto, esteja aberto para aprender sempre!
Como você pode ver, os obstáculos podem ser um fato comum como uma doença física, ou sutil como a ilusão de ser melhor do que se é realmente. Quando nos damos conta das nossas ilusões e sombras, muitas vezes fica difícil seguir no caminho do Yoga. A grande questão é que se nos colocarmos nessa trilha de autoconhecimento, em busca de uma maior claridade sobre quem somos, precisaremos ultrapassar esses obstáculos com firmeza e resiliência.
O sentimento de que hoje somos um pouco melhores do que ontem vai existir quando se pratica Yoga, tanto quanto a certeza de que seremos um pouco melhores no futuro. É importante compreender que pensamentos e sensações vem e vão e são frutos dos padrões mentais que queremos dissolver através da prática.
Ser livre é poder deixar toda essa bagagem para trás, mas para isso é necessário que lidemos com ela. Dúvidas, incertezas, falsas percepções e ilusões fazem parte do que vinhamos aprendendo a ir colocando pra dentro de nós durante toda a vida. Só poderemos aprender a abrir novos espaços e a jogar fora tudo o que não nos presta mais, quando olharmos para todo esse peso com acolhimento e atenção. O objetivo é que um dia não haja mais a distinção entre o que é melhor ou pior, apenas um sentimento duradouro de paz, tranquilidade e uma capacidade aguçada de sair das crises sem delongas.
Boas práticas!